E a culpa disso, de quem é? Podemos apontar o dedo para tanta gente e enumerar infudáveis fatores. Obviamente, a questão é bastante complexa e inesgotável num simples post. A discussão vai longe. Mas acho que o ponto inicial da discussão é o Estado, ente intangivel que sofreu metamorfose ao longo da História. Diversos modelos emergiram e ruíram, por razões que não convém aqui demonstrar.
A proposta que vingou em diversos países, inclusive o nosso, foi o Neoliberalismo. Em seu bojo, veio o sistema econômico Capitalismo, recém campeão e saído da Guerra Fria. Sem dúvida, muitas das impropriedades sociais são frutos deste sistema que trouxe a perseguição endoidecida pelo capital e lucro. As desigualdades que acarreta, os abismos sociais que semeia, o desejo pelo consumo que desperta. Não sou hipócrita: me é cômodo ser da classe média e desfrutar das regalias que são bem-vindas. Porém, isso não me impede, não NOS impede, de questionar as bases sobre as quais nossa rede socio-econômica se funda e perpetua.
Vivemos, também, numa Democracia. Logo, dispomos de um importante mecanismo de expressão: o voto. Espero, sinceramente, que o caos que se instalou no Rio de Janeiro sirva de lição. Espero que, da próxima vez em que formos colocar nossos dedinhos numa urna, as imagens de tanques de guerra invadindo a cidade sirvam para dissuadir aqueles que "protestam" elegendo palhaços -literalmente- ou os que anulam seus votos por simples desinteresse.
E o Direito? E a lei? E os Direitos Humanos? Gostaria de poder argumentar àqueles que hoje brandiram "matem esses criminosos" que a solução não é essa, e, sim, fazer valer as garantias presentes na Constituição e na lei: educação, moradia, emprego,etc. Todavia, não vou ser ingênua, sei que há limitações de recursos para tal. Também torci pelos policiais que se esgueiravam nas favelas, também desejei a morte dos traficantes, também quis que todos recebessem o arsenal de indignação, raiva e desespero que todos os cariocas sentiram nos últimos dias. Bom seria se os direitos presentes na Carta Política pudessem ser exercidos, mas a realidade que está sendo esfregada nos nossos narizes não é essa.
E a solução, qual é? Não sei. Mas é um bom começo pensar que cada um de nós tem participação nesse Armageddon. Enquanto as coisas não mudam, vamos ficar entrincheirados em nossas casas, acuados, com medo de um poder paralelo, para além do asfalto e de nossa imaginação.
O pontapé inicial é sempre o mais difícil. A meu ver, é estudar e pensar muito, fazer a diferença no minimamente possível. Mas, diga-me: por onde começamos?