25 de nov. de 2010

Questão de Ordem Pública

Pareciam imagens de um filme violento, à moda de "Tropa de Elite." Mas não eram. Cenas verdadeiras (porém, surreais) multiplicaram-se na televisão e na internet: a violência tomou conta da minha cidade. O meu Rio de Janeiro sucumbiu em poucos dias, curvando-se a um dos maiores problemas que possui: o tráfico.

E a culpa disso, de quem é? Podemos apontar o dedo para tanta gente e enumerar infudáveis fatores. Obviamente, a questão é bastante complexa e inesgotável num simples post. A discussão vai longe. Mas acho que o ponto inicial da discussão é o Estado, ente intangivel que sofreu metamorfose ao longo da História. Diversos modelos emergiram e ruíram, por razões que não convém aqui demonstrar.

A proposta que vingou em diversos países, inclusive o nosso, foi o Neoliberalismo. Em seu bojo, veio o sistema econômico Capitalismo, recém campeão e saído da Guerra Fria. Sem dúvida, muitas das impropriedades sociais são frutos deste sistema que trouxe a perseguição endoidecida pelo capital e lucro. As desigualdades que acarreta, os abismos sociais que semeia, o desejo pelo consumo que desperta. Não sou hipócrita: me é cômodo ser da classe média e desfrutar das regalias que são bem-vindas. Porém, isso não me impede, não NOS impede, de questionar as bases sobre as quais nossa rede socio-econômica se funda e perpetua.

Vivemos, também, numa Democracia. Logo, dispomos de um importante mecanismo de expressão: o voto. Espero, sinceramente, que o caos que se instalou no Rio de Janeiro sirva de lição. Espero que, da próxima vez em que formos colocar nossos dedinhos numa urna, as imagens de tanques de guerra invadindo a cidade sirvam para dissuadir aqueles que "protestam" elegendo palhaços -literalmente- ou os que anulam seus votos por simples desinteresse.

E o Direito? E a lei? E os Direitos Humanos? Gostaria de poder argumentar àqueles que hoje brandiram "matem esses criminosos" que a solução não é essa, e, sim, fazer valer as garantias presentes na Constituição e na lei: educação, moradia, emprego,etc. Todavia, não vou ser ingênua, sei que há limitações de recursos para tal. Também torci pelos policiais que se esgueiravam nas favelas, também desejei a morte dos traficantes, também quis que todos recebessem o arsenal de indignação, raiva e desespero que todos os cariocas sentiram nos últimos dias. Bom seria se os direitos presentes na Carta Política pudessem ser exercidos, mas a realidade que está sendo esfregada nos nossos narizes não é essa.

E a solução, qual é? Não sei. Mas é um bom começo pensar que cada um de nós tem participação nesse Armageddon. Enquanto as coisas não mudam, vamos ficar entrincheirados em nossas casas, acuados, com medo de um poder paralelo, para além do asfalto e de nossa imaginação.

O pontapé inicial é sempre o mais difícil. A meu ver, é estudar e pensar muito, fazer a diferença no minimamente possível. Mas, diga-me: por onde começamos?

4 comentários:

  1. Colega vc esqueceu de dizer que o problema começa , quando o individuo não tem acesso/direito a uma moradia , outro ponto a ser lembrado é a omissão estatal @lucaspenteadw

    ResponderExcluir
  2. Enumerar os problemas não irá resolver nossos problemas. Citar e querer proteger os direitos somente daqueles que fazem da nossa vida uma insegurança também é outro fator que de nada adiantará. Acho que o ponto crucial é a sociedade se unir, apoiar as ações que estão ocorrendo hj e ocorrerá amanhã, e não dizer que tem que deixar os bandidos no morro, pra deixar o asfalto livre. TODOS merecem uma sociedade livre, justa e solidária e não depende só do poder público, depende de nós, porque somos a sociedade, temos o poder, nós somos o Estado.

    ResponderExcluir
  3. Enquanto patricinhas e playboys ficarem fumando maconha, cheirando, tomando balinha em boate, continuará.

    É cômodo botar culpa no Estado.

    A causa principal, e que ninguém enxerga, que ninguém fala (ou que não quer enxergar e falar) é o consumo de drogas. Os drogados é que são os culpados por toda essa merda.

    Só há duas soluções: Ou legaliza e podem se matar à vontade, ou parem de consumir drogas ilegais.

    É consicência de cada um.

    Mas é utopia, deixa pra lá.

    ResponderExcluir
  4. É igualmente cômodo canalizar toda a "culpa" para os consumidores de drogas. Não é apenas esse mercado que alimenta e movimenta a bandidagem. Há,por exemplo,o mercado de armamentos ilegais. Se tudo isso ocorre,é porque há alguém que não está fazendo seu trabalho direito.

    Não são fatores isolados: a polícia tem seu quinhão de culpa, assim como os viciados, os políticos, as leis inadequadas, o modelo de Estado e infindáveis fatores que podemos levantar.

    A solução não é única.

    ResponderExcluir