22 de dez. de 2010

Evento aleatório e improvável

Quais são as chances de você conhecer uma baixinha de All Star sujo, coberta de rosa da cabeça aos pés, que lê a Divina Comédia? Quais as oportunidades de encontrá-la tomando uma Coca – Cola, vestindo a camisa do Glorioso, se esparramando na grama do aterro com Vigiar e Punir do lado? Qual a probabilidade de vê-la no shopping, olhando as vitrines, admirando coisas que não vai comprar, rindo com um amigo (gay ou hetero), falando besteira e mandando duas mensagens de texto por segundo?

Isso sou eu, essa estranha combinação de fatores isolados. Mais carteado do que isso, só mesmo você ter me encontrado no Twitter por sorte (ou azar, vai saber); em frente a General Severiano, na estação do metrô, na escola ou na faculdade. Sabe... Essas conspirações loucas do Universo para que pessoas desconhecidas nutram algo em comum: compatibilidade. Dentre todas as zilhões de almas que existem no planeta, algumas cruzam meu caminho. Deste grupo, uma parcela contraiu afinidade comigo. E um quinhão dessa parcela são meus parentes e amigos. Quais as chances disso acontecer?

Se estivéssemos na Grécia antiga, diria que foi trabalho das Parcas, as tecelãs do destino. Se fosse religiosa, diria que foi Deus. Sei lá, alguma mágica qualquer. Fato é: me intriga saber que, de alguma matemática bizarramente insana feita por alguém, resultou esse grupamento de pessoas com quem divido meu dia. Dentre todas as faculdades de Direito, parei na FGV, dentre todos os colégios possíveis, cursei o Zacca na turma de Humanas, dentre todos os alvinegros possíveis, tenho a amizade de alguns; dentre todos os gays espalhados pelo Rio de Janeiro, conheço uns dez ou vinte. O quão curioso isso é?

O que mais me interessa, no momento, é saber por quê raios, de um sábado à noite do qual nada esperava, me surgiu um enigma. Desse jeito mesmo, num lançar de dados invisíveis, me deparo com um garoto que usa Power Balance, mesmo sabendo que não funciona. Um garoto que riu de mim e comigo, que desembesta a falar em Inglês quando fica sem graça, que não curte futebol (!?), que tem sido a companhia mais engraçada que já tive. Esse menino, que consegue estranhamente fazer a Terra parar de girar, surgiu em um evento aleatório e improvável. Nem do Herrera eu lembro, quando estamos juntos.

É uma quarta-feira, está tarde, estou cansada e com bastante soninho. E nessas condições anormais de temperatura e pressão, não consigo parar de tentar calcular quais eram as chances disso tudo acontecer. Quanto mais me surgem perguntas, mais distantes ficam as respostas. E sequer lembro como se faz uma árvore de Teoria dos Jogos.

Vai entender.

7 de dez. de 2010

Preto e branco insolúvel

Dezembro chegou, pensei que não iria conseguir. Dois mil e dez se encaminha para o fim e, depois do ano - perrengue que passei, só posso respirar aliviada. Foram 12 meses particularmente complicados, cheio de altos e baixos e pouco espaço para respirar. Simplesmente #tenço.

Olhando para trás, só posso concluir que fui obrigada a abandonar uma parte de mim que era muito inocente. Fui compelida a crescer. Remédios que não são amargos não surtem efeito. Assim, cá estou! Doze meses mais velha, doze meses mais vivida, doze meses mais... Enfim. Um ciclo se fecha coroado por muitas risadas, lágrimas, surpresas e novidades.

Sem dúvida, foi um ano marcado por novas experiências: primeiro estágio, primeira vez como monitora, primeiro concurso público. As novidades não foram apenas no campo acadêmico: aprendi a me reafirmar como pessoa, a ouvir mais, a procurar informações, e a me esforçar para aceitar os outros como são. Amadureci na marra e o “in between’’ não foi agradável.

Pela primeira vez, amigos que amo muito vão se separar de mim. Vão pra longe, inalcançáveis pelo meu abraço. Sentirei falta deles, embora possa conservá-los no pensamento e no coração. É uma parte de mim alçando vôo para o outro lado do Atlântico. As cadeiras vazias de vocês, na faculdade, vão simbolizar mais do que consigo descrever.

E, também, pela primeira vez, criei laços profundos em pouco tempo. Falo dos meus botafoguenses, daqueles com quem compartilhei sentimentos indescritíveis nos últimos meses do Campeonato Brasileiro. À eles, meus agradecimentos, por ter feito esse fim de ano ser memorável. Por todos os telefonemas, conversas, broncas, risadas, confidências, idas aos treinos e aos jogos. Foram meses insanamente estranhos.

Certa vez, me disseram que o melhor do Botafogo são as amizades que ele ajuda a cultivar. Arrisco a afirmar que essa frase não poderia estar mais correta. Obrigada, então: Thiagos, Carols, Lennon, Nessa, João, Ian, Joás, Breno, Ana, Lucas (o porquinho!), Hermínia, Cayo, Felipe, LahhDraven, Isabella; e tantos outros com quem dividi o sentimento preto e branco.

Igualmente registro meus agradecimentos e abraços àqueles que fazem parte da comunidade colorida, que me carregaram pras nights mais divertidas que já tive. Sempre me alegrando e ouvindo. E, claro, trazendo dignidade pro meu cabelo.

Que venha 2011.

Obs: E,claro, obrigada Herrera...Por ser o Hererra. *_* SEU LINDO.

25 de nov. de 2010

Questão de Ordem Pública

Pareciam imagens de um filme violento, à moda de "Tropa de Elite." Mas não eram. Cenas verdadeiras (porém, surreais) multiplicaram-se na televisão e na internet: a violência tomou conta da minha cidade. O meu Rio de Janeiro sucumbiu em poucos dias, curvando-se a um dos maiores problemas que possui: o tráfico.

E a culpa disso, de quem é? Podemos apontar o dedo para tanta gente e enumerar infudáveis fatores. Obviamente, a questão é bastante complexa e inesgotável num simples post. A discussão vai longe. Mas acho que o ponto inicial da discussão é o Estado, ente intangivel que sofreu metamorfose ao longo da História. Diversos modelos emergiram e ruíram, por razões que não convém aqui demonstrar.

A proposta que vingou em diversos países, inclusive o nosso, foi o Neoliberalismo. Em seu bojo, veio o sistema econômico Capitalismo, recém campeão e saído da Guerra Fria. Sem dúvida, muitas das impropriedades sociais são frutos deste sistema que trouxe a perseguição endoidecida pelo capital e lucro. As desigualdades que acarreta, os abismos sociais que semeia, o desejo pelo consumo que desperta. Não sou hipócrita: me é cômodo ser da classe média e desfrutar das regalias que são bem-vindas. Porém, isso não me impede, não NOS impede, de questionar as bases sobre as quais nossa rede socio-econômica se funda e perpetua.

Vivemos, também, numa Democracia. Logo, dispomos de um importante mecanismo de expressão: o voto. Espero, sinceramente, que o caos que se instalou no Rio de Janeiro sirva de lição. Espero que, da próxima vez em que formos colocar nossos dedinhos numa urna, as imagens de tanques de guerra invadindo a cidade sirvam para dissuadir aqueles que "protestam" elegendo palhaços -literalmente- ou os que anulam seus votos por simples desinteresse.

E o Direito? E a lei? E os Direitos Humanos? Gostaria de poder argumentar àqueles que hoje brandiram "matem esses criminosos" que a solução não é essa, e, sim, fazer valer as garantias presentes na Constituição e na lei: educação, moradia, emprego,etc. Todavia, não vou ser ingênua, sei que há limitações de recursos para tal. Também torci pelos policiais que se esgueiravam nas favelas, também desejei a morte dos traficantes, também quis que todos recebessem o arsenal de indignação, raiva e desespero que todos os cariocas sentiram nos últimos dias. Bom seria se os direitos presentes na Carta Política pudessem ser exercidos, mas a realidade que está sendo esfregada nos nossos narizes não é essa.

E a solução, qual é? Não sei. Mas é um bom começo pensar que cada um de nós tem participação nesse Armageddon. Enquanto as coisas não mudam, vamos ficar entrincheirados em nossas casas, acuados, com medo de um poder paralelo, para além do asfalto e de nossa imaginação.

O pontapé inicial é sempre o mais difícil. A meu ver, é estudar e pensar muito, fazer a diferença no minimamente possível. Mas, diga-me: por onde começamos?

2 de nov. de 2010

Watch Me.

Sofro preconceito desde o dia em que nasci, já que sou mulher. Aceite ou não, a sociedade é machista. A vida segue assim, com milhares de preconceitos velados ou escancarados, perceptíveis nos mínimos detalhes. Além de ser mulher, ando com homossexuais. Sou hetero, por isso suporto a olhadela desconfiada dos que são gays e não curtem uma “estranha no ninho”; e a dos haters do glitter que me circunda. Ou seja, de heterossexuais que não entendem meu gosto por conviver e sair com essas pessoas.

Recentemente, mais um motivo de estranheza: gosto de futebol. Talvez para você isso seja banal, irrelevante ou bobo. Mas pense: nunca notou como as pessoas na rua olham engraçado pra garotas com camisa de time? Quantas vezes você mesmo já conversou com uma menina assim, e quando surgiu discordância, pensou: “ah, ela é mulher, não entende disso.” Dentro do meu próprio círculo íntimo de amizades, já me taxam como fanática, sendo que adentrei no mundo futebolístico há pouquíssimo tempo. Apenas estou engatinhando. Nem imagino como seria se eu fosse realmente entendida, como muitos dos que vim a conhecer.

Para aqueles que me acompanham pela Internet, ou pela vida real, e não estão felizes com isso: me assista. Viciada e viciante, não vou me furtar de fazer aquilo que quero, gosto e acho certo. Pode assistir de camarote a minha felicidade. Até mesmo vibrar com meus acertos, balançar a cabeça e dizer “eu te avisei, menina” em minhas derrotas e, inclusive, fazer um cafuné quando te pedir colo. Assista-me, me entretenha, compartilhe comigo.

E não se trata apenas do futebol: tudo está incluído. Parece que há uma expectativa quanto ao meu comportamento, uma agitação quando há contradição entre realidade-fantasia. Estou no meio de um furacão chamado “transição-para-a-vida-adulta” e não é divertido, nem fácil. No entanto, estou me esforçando pra ir no caminho certo, me bancando mais, rindo mais, aceitando mais. Tudo “mais”: fazer e sentir.

Já disse que não espero a compreensão de ninguém, em momento algum. Mas deixaram a porta da gaiola aberta, me fizeram questionar e pensar. Agora, agüentem.

12 de out. de 2010

Matemática, Amor e Raciocínio

Já notou como gostar de alguém é entrar em um looping eterno de cálculo estratégico? A gente se pega fazendo operações complexas, tecendo mil probabilidades, avaliando infinitos finais possíveis. Matemática pura. Mas, pra alguém como eu, que sente ojeriza por tudo isso, a equação acaba em um resultado não muito feliz. Embora previsível.

“Devo ligar/ falar primeiro?” “Será que ele gosta de mim?” “É melhor esperar ela fazer tal coisa antes?” Fala sério. Quantas variáveis e variantes estão presentes em um relacionamento? Quanto de lógica nós utilizamos, sem nem precisar de papel e caneta pra chegar a um “ele não presta” ou “ela foi filha da put*”? Aliás, só usamos pra verificar quanto falta no cartão de crédito no final do mês, depois de algumas saídas.

Nessa mistura de lógica e sentimento, existe algum denominador comum, algum fator necessário para assegurar um resultado correto? A ordem dos fatores – o fator EU- muda o quê, em quê, pra quê? Relação é soma, sentimento é divisão, briga é subtração e carinho é multiplicação. Não tão simples assim: já vi casos de pura divisão, ou somente subtração. Extremos que dão certo, tanto quanto um caso de banal 2 mais 2.

Tudo muito confuso, logaritmos materializados em expressões, colchetes em abraços, parênteses em suspiro. Matemática no corpo, no coração, na alma, teorema livre da vida.

Espera. Tem uma calculadora aí?

5 de out. de 2010

Boderline

Existe uma equação que sempre me perturbou muito: o equilíbrio entre o ego e o coletivo. Sendo mais específica: o quanto é aceitável sermos voltados para nós mesmos em detrimento do que deve ser feito em prol dos outros?


Egoísmo puro e simples se traduz em algumas ações rotineiras. Por exemplo: visto-me pra mim, compro maquiagem (desnecessária) para mim, como o hambúrguer que eu quiser, escuto a música que eu quiser. Satisfações pequenas que massageiam meu eu interior. Que, aliás, grita constante e exponencialmente por mais. Quero ser mais, ter mais, desejar mais. É uma imposição fortíssima, quase tão dominadora quanto meu impulso por cuidar dos outros.


O quão doentio é isso: viver pra si e para satisfazer quem amo? Já parou para pensar em quantas ações suas são voltadas para o seu próprio bem estar? E quantas são altruístas, feitas por amor e nada mais? Lógico que essa matemática se diferencia de pessoa para pessoa. Existem aqueles que são abnegados ao ponto de se anular para afagar as necessidades alheias. Tentei isso, e vi que não deu certo. Tentei, também, ser mais egoísta. Falhou nos primeiros momentos.


Então, #comolidar? Acho que o tema perpassa por outra complexidade: o sentimento de coletividade. Queremos nos incluir em um grupo, nos identificar como igual, pertencer a uma "panelinha". Alguns vão longe demais, ultrapassam limites para sentirem-se incluídos e amados. Não os julgo, sei que é contagiante encontrar nossos pares. A experiência mais próxima disso,para mim, foi me re-incluir na comunidade botafoguense. Me senti parte de algo maior, agora que podia partilhar das mesmas idéias e sentimentos com outras pessoas. Parece bobo e insano, mas estou certa que você já sentiu o mesmo.


Volto a meu questionamento central: se nos incluir faz parte do nosso cotidiano e mesmo de nossos instintos, o quê fazer com nosso ego que grita altíssimo incessantemente? Como saber se estamos saudavelmente cuidando dos dois lados? Não sei a resposta, e duvido que alguém saiba. Vou me limitar,então, com o resultado genérico de afirmar que a vida é uma sucessão de tentativa e erro, até que cheguemos a algum lugar.



27 de set. de 2010

Sobre Infância e o Botafogo

Quem me acompanha no Twitter deve ter a nítida impressão de que sou um menino. Nos últimos tempos, houve um flood de tweets sobre futebol. Várias arrobinhas, hashtags e DM sobre o Brasileirão.
Como o Blog cor-de-rosa escancara, sou uma menina. E nem sempre fui vidrada pela bola correndo no gramado. É um sentimento que ficou em latência, durante alguns anos. Precisamente, foi aflorado em 2008, quando entrei na faculdade e experimentei os primeiros indícios de fanatismo.
No entanto, meu relacionamento com a Estrela Solitária começou cedíssimo: uma das minhas primeiras bonecas tinha um vestidinho com o escudo. Uma longínqua festinha de aniversário teve como tema o time que hoje me envolve. Tudo isso justificado por um pai fanático, que, por sua vez, foi contagiado pelo meu avô,tão alucinado quanto.
Em 2008, o germe se espalhou com rapidez impressionante. Acompanhava todos os jogos, sabia dos jogadores, da tabela... e balbuciava a clássica frase "não posso,hoje tem jogo do Botafogo." E assim foi esse relacionamento de amor, que prematuramente se extinguiu sem maiores razões. A febre abaixou, a doença se foi e toquei minha vida sem maiores explicações.
Em 2010, meu pai me levou ao Engenhão, realizando um dos meus sonhos da vida. Quando senti as lágrimas inundando meus olhos, quando vi a torcida, quando ouvi os primeiros gritos de " E ninguém cala", soube da verdade. Não havia mais jeito: faço parte daquele seleto grupo dos que inexplicavelmente SEMPRE acreditam...dos que possuem uma estrela definindo o coração. Nasci sobre a luz da estrela solitária, e pouco me importa se ela por vezes brilha com menos intensidade: esse fogo no meu peito nunca irá se apagar.
No meio do looping emocional dos jogos, nervoso com a escalação do Joel Santana, afastamento do Mago, paixonite pelo Herrera, sei que sou membro da comunidade dos Gloriosos. Não espero que tricolores, rubro negros e vascaínos compreendam o que eu sinto: só um botafoguense sabe o que nos motiva a sempre acreditar e torcer.
Porque, afinal, não escolhemos, fomos escolhidos.
Um abraço a todos os alvinegros que leram esse post. Ninguém cala o nosso amor ( nem o próprio Botafogo. =p) !

21 de set. de 2010

Vodka com Coca-Cola


A parte mais difícil de se traçar um objetivo é definir qual o ponto de chegada. Visualizar nosso real e mais íntimo desejo é uma tarefa para Hércules. Temos que perceber, debaixo de todas as idéias rasas, qual a verdadeira intenção que nos guia.
Claro, nossos objetivos mudam ao decorrer do tempo. São transformados, amputados, esticados, extintos em alguns segundos. Mas sempre há aquele que nos acompanha desde sempre...Desde quando nos entendemos por gente. É aquele "eu queria um cachorrinho", ou "sempre quis morar em Londres", ou ainda "sei que um dia vou conhecer o amor da vida."
No auge dos meus 21 anos, já percebi que muitos dos meus sonhos são simplesmente impossíveis. Abdiquei de fantasias infantis no primeiro lampejo de realidade que encontrou com a minha fuça perplexa. Aqueles que resistiram, estão em latência. Sendo encaminhados. Na transição.
Uma vez que a meta está ali, na sua frente, por mais doloroso que seja o caminho, a mera lembrança do prazer que nos espera faz com que nossas forças sejam reabastecidos. É um "me dê sua força,Pégasus". Pode rir, mas é exatamente isso que acontece.
Não reclamo das escolhas que fiz. Passo pelos meus perrengues em decorrência do caminho que resolvi trilhar, das pessoas que resolvi conhecer e dos conceitos que escolhi revisar. Reclamo é da falta de energia que se abate de vez em quando, nos momentos em que o corpo cansa e a mente devaneia.
É exatamente assim que me sinto agora: cansada, fora de foco. Como se o caminho adiante estivesse distorcido. A solução pra isso é muito tempo de terapia, conversas longas com ninguém, auto-crítica e altas doses de coragem.
Ou um copo de Coca-cola com Vodka. Que está bem na minha frente. Porque um atalho não necessariamente significa desonestidade.

17 de set. de 2010

Performatic, Dramatic, Me.

Todos os dias, uma nova oportunidade surge pra mim.

Uma oportunidade de divertir, entreter, encantar. Meus dias são contabilizados como um somatório de babados, confusões e gritarias, intercalados por gírias gays, piadas feitas na hora e copos de Coca Cola.

Vez ou outra há novidade, pausa dramática, eventos interessantes.
A trilha sonora é meu Ipod.

A platéia é o mundo.

1 de set. de 2010

Diariamente Meu

As cortinas vermelhas do seu teatro vão se abrir. Vagarosamente, pra criar expectativa, agitando a poeira do palco. Toda esta expectativa para encarar-se a decepção agonizante de um palco engolidoramente vazio.

Mas só até o seu contra-regra autorizar a iluminação. Esta começará precária, tênue, suave. Quase amarelada. E no romper do teu primeiro ato, se tornará firme e autoritária, como se demonstrasse o despertar definitivo de mais um capítulo na sua História.

Vem você, o protagonista. Adentrando naquele espaço com certa agilidade. Meio cambaleante ás vezes, porém sempre retomando seu gingado habitual. Sempre com a mesma graça. Sem nunca perder seu próprio jeito de olhar, mover os pés, sacudir a cabeça ou..sei lá..piscar.

Observo os demais personagens a se locomover e dialogar entre si.Nem sempre consigo juntar os fragmentos de tantos atos ao mesmo tempo.Me esforço ao máximo, na esperança de poder montar um quebra cabeça completo que me leve até o mais amplo entendimento de você.Uma compreensão que só acontece quando montamos um imeeeeenso jogo por completo.Chamo-lhe de quebra cabeça, palavra cruzada,Sudoku, o que for. Intimamente, lhe dou o nome de "Meu".

Dá pra perceber quando você fica desconcertado.É como se a peça toda desmoronasse por algumas frações de segundo, como se o teu ( e por conseqüencia,nosso) mundo fosse embora por completo.Aí, aquela maldita luzinha branca se manifesta, atrapalhando minha visão.É bem irritante aquele feixe no meio da escuridão, como se não houvesse mais nada pra iluminar o nosso íntimo Caos- mesmo que você nem desconfie que eu o assista e partilhe deste horror.

Pois bem.Quando tudo se reestrutura, me alegro em vê-lo descer e subir montanhas, atravessar rios, percorrer vales e baixar pontes.Vejo-o em suas aventuras diárias e fantásticas, sempre arquivando minhas percepções no longo processo que mantenho sobre minhas infames observações.

Só até as luzes enfraquecerem.Acontece quando o meu protagonista adormece.As luzes do teatro se tornam turvas, quase líquidas, esfumaçadas.Os atores, antagonistas e o próprio cenário,todo o conjunto se liquefaz numa nebulosidade monstruosa.E "Meu" deixa o palco, permitindo que o Caos novamente manifeste-se, sob a personificação de um hediondo vazio.

As cortinas se fecham, fazendo um leve ruído, agitando novamente a poeira do palco.Assim elas vão permanecer, até o raiar de um novo dia,até o começo de um novo espetáculo.

Eu estarei sempre ali,na primeira fila.Assistindo,ansiando,adorando ser uma parte-ainda que passiva- do seu cotidiano.

Apenas aguardando o momento de entrelace entre a tua e a minha História. Aguardando o momento de dividir contigo o palco. Esperando a chance de ser outra protagonista, tecendo uma estória paralela com a nossa história. Até esse grande momento, me contento em assistí-lo.

Porque sei que na bilheteria não há nenhum outro ingresso como o meu. Pois não importa sob qual ângulo analisam suas atitudes - para mim, é uma interpretação já conhecida, fantástica, parcialmente comprometida.
É assim que, mesmo sem saber, tua vida se torna minha - diariamente, na platéia.

21 de ago. de 2010

Letras Maiúsculas.

Não permita que matem o seu refrão.
Seja constante na inconstante viagem dos dias, semanas, meses e anos. Reafirme-se diariamente.
Seja autêntico, próprio, faça-se único, presente, necessário...especial.Dispense aprovação alheia e renegue a todo tipo de pré concepção. Dispa-se de preconceitos e formule os seus próprios. Embarque numa exploração sem roteiro e bússula.
Precisa-se apenas de um cálice, uma dose, de um nome iniciado com letra maiúscula, escrito com letra forte, precisa, certeira. Uma inicial a ser lembrada, uma caligrafia pra não ser esquecida. Seja ela legível ou etérea. Comece seu eco pela letra maiúscula, notável e inegável.
Negue aquilo que pareça falso, esquecível, imitável ou impróprio. Seja próprio, seja seu - é isto (e apenas isto), que você possui: identidade. Foi o presente mais precioso (e dúbio) que a eternidade lhe concedeu.
Não o perca, não há segunda via. Não deixe que a vida mate seu refrão:agarre-se ao seu ego, o seu eu, saia de cabeça erguida, com o refrão estampado no peito e a coragem de um nome maiúsculo nos ombros. Sinta o peso de não ser ninguém além de você. Seja agraciado pela desgraça de não haver troca de identidade.
Permaneça na própria e única permanência de uma só alma, um só nome com letra maiúscula. Alegre-se de não ser nada, de ser tudo, de ser coisa alguma, seja um grão de areia,seja um dinossauro, não signifique nada, seja um dicionário inteiro, permita-se ser o micro e o macro. Tome por si uma frase solta, uma sílaba, um desejo, uma idéia, um garrancho, uma poesia, um.. piscar de olhos:não deixe que levem seu refrão.
Seja o refrão sempre e para sempre. Pois é isso que sei que serei- eu e apenas eu- pra sempre. Se isso é bom ou ruim, ainda não decidi.

13 de ago. de 2010

Bis In Idem

Autoflagelação é algo que soa antiquado. Como se fosse uma prática de outrora, há muito esquecida pela sociedade. No entanto, tal costume ainda é revivido por algumas religiões, nas quais os homens e mulheres de fé castigam seus corpos na expectativa de expiar as dores e os pecados de sua alma.

Porém, conheço um processo de autoflagelação ainda mais agressivo. Não contém sangue, carne dilacerada, morte, etc. Pior, seu propulsor é intangível, complexo e praticamente desconhecido: a mente. Quantas vezes já dissemos/ fizemos algo do qual nos arrependemos?

O arrependimento ( ou a culpa) é um vírus que desce dos lábios diretamente para nossas entranhas, contaminando tudo no caminho. Tal virose se espalha depressa, reproduzindo-se em pensamentos como: “não devia ter feito isso”, “acho que magoei Fulano”, ou o clássico “fiz merda!” Gera até mesmo mazelas físicas: sentimos suor frio e dor no estômago, por exemplo. Vale lembrar que os sintomas variam de acordo com o grau e o tipo de besteira que produzimos.

Deixando de lado o aspecto do dolo (se houve intenção), vou me focar em um fenômeno advindo dessas situações: a autoflagelação mental. O processo de infecção acompanha o martírio silencioso que produzimos ao repensar a cena, o contexto e os personagens, apenas para chegar a uma conclusão lógica: “eu podia ter feito diferente!” Novamente, a intensidade desses devaneios é variável.

Assim, há um Bis In Idem, uma dupla punição pelo mesmo crime: aquela feita pela(s) pessoa(s) impactada(s), que certamente vai (vão) nos julgar... Possivelmente, desencadeando a famigerada fofoca... E a outra, despertada por nós mesmos, que consiste nessa tortura mental de atribuição de culpa.

Mas não é necessariamente nossa culpa cometer tais erros. Em primeiro lugar, devemos aceitar um fato que, por mais que soe banal, nos é difícil digerir: somos humanos. É da nossa natureza errar, cometer equívocos de toda sorte. Num mundo regido por Photoshop e aparências, somos compelidos a buscar a perfeição a todo custo, seja ela física, intelectual ou moral.

Em segundo, a sociedade busca o politicamente correto, levando essa premissa da política ao humor. Na atualidade, isso é demonstrável com mais intensidade. Novamente, somos oprimidos a aceitar esse conceito e, toda vez que nos desviamos do padrão, há algo em nós que se contorce em dor e agonia.

Por fim, é necessário compreender que a comunicação depende do interlocutor e do receptor. Aquilo que produzimos corporal ou verbalmente, vai ser interpretado de diferentes formas por diversificados públicos. Achar que todos vão nos aceitar, entender nossas idéias e atitudes, é ilusório. Conforme crescemos e amadurecemos, precisamos estar dispostos a compreender que as pessoas não vão gostar de nós por aquilo que de fato somos, mas sim,porque fazem uma imagem de nós.

Se essa imagem é idealizada ou não, dá pra discutir. Mas tal qual Narciso, o espectador se encanta por um espectro cotidianamente construído a partir daqueles que o cercam. De acordo com a passagem do tempo, tal mistificação pode ser confirmada ou destruída. E cometer erros faz parte disso, permite que conheçamos a nós mesmos e aos alheios, que formarão idéias a respeito de quem devemos ser.

A dupla punição derivada da culpa pode encontrar atenuantes de pena e calmantes de espírito ao reconfortar-se nessas três ( e outras) premissas. Aceitar nossa condição de humanóide, de imperfeição, é o primeiro passo para construirmos nossa identidade, aceitando nossas limitações. Claro, isso não justifica determinas atitudes maldosas, calculistas ou que, deliberadamente, prejudiquem terceiros. Apenas pode nos trazer reconforto quando passamos por situações que sejam, no mínimo, constrangedoras.

A autoflagelação é uma pena suportada por todos, indistintamente. E o fato mais relevante é que nossa mente é um cárcere. A ironia é que o juiz, bedel e preso são representados por nós mesmos.

10 de ago. de 2010

Do arquivo.

Sou aquele que passa por ti,
Todos os dias,
Todas as horas.
Aquele que te observa da Janela
O Inexorável
Sou de todos, de alguém
Sou teu, só teu, de mais ninguém
Feito por ti, desfeito pelo acaso
Desencontros calculados
Dou-lhe o dia e a noite
Sou aquele que te nina nas madrugadas insones
Que conhece teus passos
O responsável por tuas roupas não caberem mais
Por sua boneca estar esquecida
E por tua sorte estar lançada
Encontro-te em todas as esquinas
Embalo-te na tua vida
Sou o inegável, o inesquecível
E o pouco crível me cai bem
Sou da matéria dos Deuses
E da efemeridade humana
Sou um rosto na multidão
Um segundo desperdiçado
Uma lágrima corrida
Sou feito de e por ti
Ou para tua alegria, inconveniência, tristeza
Não importa o que pareça: sempre estou ao teu lado
E não me negues, não me vês, não me sentes
Acaricio teus momentos
E faço a doce ilusão
Com que pareçam ser a Sorte
Não me negues, criança
Sou o Teu Destino
E, fio por fio,
Por você é escrito
O meu conteúdo
E fio por frio,
Escrevo o teu enredo
Não existo sem ti
Sem mim és vazio